Traduzimos o presente artigo da OSnews que faz uma abordagem geral sobre o Haiku, inclusive do ponto de vista de um usuário Linux. Trata-se de uma ótima apresentação do sistema, que permite ao iniciante ter uma prévia do que poderá encontrar nesse excelente sistema operacional.
O
Haiku poderia mudar o mundo
postado
por Razvan T. Coloja em seg., 3 Jan 2011 23:30 UTC
(tradução
nossa)
Para
entender o que são os sistemas operacionais BeOS e Haiku, nós temos
primeiro que lembrar que o BeOS foi desenvolvido tendo em mente o usuário
multimídia. O BeOS desejou ser o que o OS X se tornou hoje:
um sistema fácil de usar e atrativo. No entanto, o BeOS era um
sistema de nicho, destinado ao usuário faminto por multimídia. A
porcentagem de aplicativos de áudio e vídeo disponíveis para o
Haiku é maior que aqueles no Linux, OS X ou Windows e o trabalho
interno do sistema operacional foi criado de tal maneira que o mesmo
apaixonado por multimídia acharia fácil trabalhar com a interface
de usuário e arquivos. Cada aplicativo pode interagir com outros do
mesmo tipo. Uma seleção de um arquivo WAVE pode ser arrastada de um
editor de som para a área de trabalho, a fim de criar um arquivo de
áudio. Aplicativos de
áudio podem interagir uns com os outros através do Haiku Media Kit
– o correspondente do servidor de som do Linux. Aplicativos como o
Cortex são o exemplo perfeito de como o BeOS e o Haiku lidam com
arquivos multimídia: você pode ter mais de uma placa de som e usar
cada uma das placas independentemente ou separadamente.Você
pode vincular uma placa de som ao Áudio Mixer, iniciar um aplicativo
de bateria eletrônica e vinculá-lo ao mesmo Mixer. Se desejar
reproduzir o que quer que tenha criado com o aplicativo de áudio,
tudo o que tem que fazer é arrastar o microfone e vinculá-lo ao
ícone do aplicativo no Cortex.
Tudo
no Haiku está em torno da simplicidade. Você pode arrastar e soltar um
arquivo dentro de uma janela de aplicativo e se o programa puder
manusear o tipo de arquivo, ele irá abrí-lo instantaneamente.
Quando
o BeOS falhou em tornar-se um sistema operacional comercial, o
time do Haiku assumiu o desenvolvimento e criou um BeOS do zero,
tornando-o um sistema operacional de código aberto. Haiku é um SO
compatível com POSIX
que à primeira vista parece ser um clone entre o OS X e o Linux.
Enquanto a interface de usuário pode parecer não tão polida como o
Aqua do OS X e a base de aplicativos pode ser menor do que a do
Windows, em compensação o Haiku é o mais rápido de todos eles.
Imagine
inicializar uma distribuição Fedora cheia
de funcionalidades com a velocidade de uma simples distribuição
Linux GeeXBox. No VirtualBox, com 512Mb de memória RAM base e um CPU
de 1,83GHz, o Haiku inicializa em exatos dez segundos do menu do
bootloader até abrir uma área de trabalho pronta para uso. Desligar
o sistema operacional leva um total de três segundos na mesma
máquina virtual. O Haiku também trabalha em máquinas antigas e o
tempo de inicialização varia alguns segundos a mais com um
processador de 500MHz e 256Mb de memória SDRAM. Com apenas 358 Mb de
espaço em disco rígido ocupado pela instalação padrão, o Haiku
não necessita de uma partição SWAP como o Linux, mas ainda assim
pode usar um arquivo SWAP para memória virtual.
O
sistema de arquivos nativo que o Haiku utiliza é chamado BFS (Be
File System), totalmente compatível com journaling de 64-bits. Assim
como EXT3 ou XFS, diferencia maiúsculas de minúsculas e pode ser
usado em dispositivos de armazenamento de mídias. Mais importante, o
BFS tem suporte para atributos estendidos de arquivo (metadados) e
tem capacidade de indexação e consulta. De muitas maneiras, o BFS
age como um banco de dados relacional. BFS pode manusear acima de
dois exabytes quando vem
com limite de tamnho de arquivo. Você pode encontrar suporte ao BFS
no kernel do Linux sob o nome BeFS (por razões práticas, para não
confundir com o UnixWare Boot File System que possui a mesma
abreviação que o sistema de arquivos do Haiku).
O
sistema operacional em si é desenvolvido em C++ e tem uma API
orientada a objetos. O servidor individual e as APIs são conhecidas
pelos usuários BeOS como “kits”. Existe um Kit de Rede que provê
todas as funcionalidades necessárias para acesso à rede. Existe um
Kit de MIDI que manipula o protocolo MIDI. Este último é também
ligado ao Kit de Mídia que manipula todas as coisas de áudio e
vídeo.
Uma
das diferenças entre o Haiku e outros sistemas operacionais
UNIX-like é o Kit de Tradução. Não tem nada a ver com linguagem
mas, ao invés disso, é uma coleção de bibliotecas que lidam com
arquivos de imagem específicos. O Kit de Tradução é composto por
módulos, cada qual designado para ler, escrever, converter um certo
formato de arquivo gráfico. Para ser capaz de visualizar arquivos
JPG, por exemplo, você precisa baixar um dos binários do
Tradutor JPEG e copiá-lo em /boot/system/add-ons/Translators. Uma
vez feito isso, não é necessário reiniciar o servidor do Kit de
Tradução para que as novas definições tenham efeito. Você será
capaz de visualizar arquivos JPEG instantaneamente, desde que o
arquivo binário esteja em seu lugar. Bibliotecas do Kit de Tradução
– também chamadas “Tradutores” - são pré-instalados para os
tipos mais comuns de arquivos de imagem que variam do GIF ao SGI e
RAW. Tradutores podem ser baixados separadamente a partir do BeBits, o maior
repositório de software do BeOS e do Haiku.
O
Haiku mantém as coisas simples, com aplicativos simples e opções
de configuração simples. Com um mínimo de esforço você pode
instalar e aplicar algo e aquele algo deve funcionar como esperado –
seja um aplicativo, definição de sistema ou consulta de pesquisa.
O
sistema operacional foca menos na linha de comando já que é mais
fácil ao usuário utilizar a rápida interface gráfica. Existe um
porte do BASH no Haiku com um conjunto de binários UNIX comuns como
diff, tar, rm, route, grep, ssh ou traceroute já disponíveis. Assim
como as distribuições Linux, o BeOS também tinha um sistema de
pacotes. Arquivos PKG poderiam ser instalados com a ajuda do
SoftwareValet. Não haviam repositórios online disponíveis naquela
época e o aplicativo instalador podia manusear arquivos apenas da
perspectiva da interface gráfica. O Haiku está tentando
trazer de volta os dias dos arquivos PKG com um projeto que será
escrito na API do Haiku. Hoje, a maioria dos softwares disponíveis
para o Haiku vem em pacotes ZIP, com muitos projetos de código
aberto sendo portados do Linux e do BSD. Inclusive drivers de dispositivo e
aplicativos. QEMU, ScummVM, HandBrake, os drivers da
família Realtek RTL8132 são apenas alguns deles.
A
estrutura de pastas do Haiku é ligeiramente diferente daqueles que
costumamos ver no Linux, uma vez que o sistema operacional foi
desenvolvido com o usuário único em mente.
Algumas
pessoas podem achar estranho que um
sistema operacional UNIX-like não tenha acesso multiusuário
implementado. Isto é apenas mais uma coisa que separa o Haiku do OS
X, Solaris e Linux. Sua estrutura de pastas pode assemelhar-se ao
Linux e OS X, ele pode ter um prompt BASH, mas no fundo o Haiku é um
sistema operacional monousuário. O proprietário dos arquivos será
sempre o “baron” e o grupo em que você estará será sempre
“users”. Isto porque os desenvolvedores queriam usar a estrutura
UNIX-like mas não viram necessidade para acesso multiusuário nos tempos do BeOS.
Uma
vez que não possui suporte a multiusuário – ele não possui pasta
/root – o usuário atual será o primeiro e único administrador do
sistema. A raiz do sistema guarda os nomes de volume. Como tudo é tratado
como um arquivo, assim como no Linux – apenas de um ponto de vista
do usuário único – os nomes de volume aparecem como um disco na
raiz do sistema de arquivos. O principal volume de disco é também
chamado /boot e contém a pasta /home, as pastas /preferences e
/system, a pasta de aplicativos é chamada /apps e mais outras três
pastas de sistema. A pasta /develop, por exemplo, guarda os arquivos
de cabeçalhos e bibliotecas de sistema necessários para compilar
binários, as ferramentas de compilação e documentação relativa.
Por padrão, a pasta /boot/home possui a seguinte estrutura simples:
/boot/home/config
/boot/home/mail
/boot/home/queries
.bash_history
O
Haiku mantém as coisas organizadas de uma maneira efetiva, não
empilhando pastas no espaço de trabalho do usuário.
Arquivos de sistema que o usuário não técnico não deseja ver são
mantidos longe em outras partes do sistema.
/boot/home/config
mantém os arquivos de configuração do usuário, os adicionais do
Tracker, os arquivos do Tradutor, tudo que pertence ao usuário. No
Haiku, muitos dos arquivos são vinculados simbolicamente a outros e
muitas das pastas aparecem até mesmo duas ou três vezes em
diferentes partes do sistema, num bem pensado mas caótico ecosistema
técnico.
Existem
dois componentes que definem a área de trabalho do Haiku: o Tracker
e o Deskbar. Do ponto de vista de um usuário Linux, o Tracker é um
cruzamento entre o Nautilus e o próprio GNOME. Ainda assim, é mais
do que um gerenciador de arquivos e junto com o Deskbar ele forma o
conjunto completo de componentes da área de trabalho do Haiku. O
Tracker pode gerenciar operações de arquivos mas também pode
decidir quais volumes na área de trabalho são visíveis. É um
gerenciador de arquivos mas também uma interface para algumas das
definições de sistema mais utilizadas do Haiku, como o tamanho dos
ícones SVG (Simple Vector Graphics) ou acesso aos adicionais do
usuário (que poderia ser comparado à função de script do
Nautilus). O Deskbar por outro lado integra o Tracker e o Registrar,
este manuseando os processos dos aplicativos.
Alguns
aplicativos também tem a habilidade de se desvincular de suas
janelas e se fixar na área de trabalho. Eles são chamados
Replicantes e você pode identificá-los por uma pequena seta
encontrada no canto inferior direito. Você pode arrastar essa seta e
incorporar uma cópia do aplicativo na área de trabalho.
Do
ponto de vista da segurança, sendo um sistema operacional
monousuário construído numa estrutura UNIX-like, o Haiku ainda não apresenta riscos de segurança. Seu principal uso é para computador
desktop e praticamente não existem servidores rodando o sistema
operacional Haiku. Tendo uma base de usuários pequena e sendo
compatível com POSIX, não existem vírus para ele. A única
coisa que se aproxima de um malware seria um script BASH
malicioso ou uma bomba lógica. Não existe tela de login para
proteger o usuário antes de chegar à área de trabalho e isto
poderia ser considerado um risco. O que poderia ser superado com
a ajuda de uma biblioteca chamada Real Multi User ou com um software
de terceiros como o Lock Workstation.
O
Tracker pode gerenciar atributos estendidos. No modo de visualização
detalhada de arquivos, o Tracker exibe etiquetas ID3 obtidas de
arquivos MP3 como atributos editáveis e é uma maneira de, em poucos
cliques, adicionar atributos personalizados a arquivos multimídia.
Outra
coisa interessante sobre o Haiku e o sistema de arquivos BFS é que –
como eu mencionei antes – ele age como um banco de dados. Toda vez
que você procura por um arquivo, um arquivo de consulta é criado, o
qual mantém os resultados para aquela consulta
específica que foi feita. Você pode mais tarde refazer aquela
pesquisa em particular simplesmente clicando no arquivo que é salvo
automaticamente em /boot/home/queries. A velocidade pela qual as
consultas são realizadas graças ao sistema de arquivos BFS é
simplesmente incrível. Você pode comparar com o quão rápido obtém
resultados de um sistema de arquivos pré-indexados Linux pelo uso do
locate e updatedb. Consultas podem ser manipuladas e editadas assim
que a fórmula de pesquisa inteira é exibida ao usuário, na forma
de um verdadeiro banco de dados. Um antigo projeto chamado
TrackerBase, desenvolvido por Scot Hacker, pode pegar aqueles
resultados de consulta e transpô-los para o formato HTML usando
apenas um servidor web nativo do Haiku chamado PoorMan. Você
pode entender melhor as consultas como uma variação menos
poderosa dos resultados de um servidor SQL.
Geralmente,
os aplicativos em interface gráfica do Haiku tem um rastro de
memória muito pequeno. Isto é uma reminiscência da era BeOS R5
(1998-2001) quando a maioria dos aplicativos eram simplistas e não
requeriam muitos recursos para rodar. As coisas mudaram agora no
Haiku com o surgimento de softwares famintos por recursos como o
Firefox e consequentemente os portes para o Haiku daqueles
aplicativos de código aberto. O Haiku vem empacotado com o Firefox
Bon Echo (versão 2.0.0.21pre). O BeZilla utiliza 52940 KB de memória
quando aberto. Isto realmente tem um impacto na performance global de um
sistema operacional que tem sido usado para rodar softwares leves.
O
objetivo do Haiku era manter compatibilidade retroativa com os
binários do BeOS R5 de maneira que aqueles aplicativos desenvolvidos
para a última versão do BeOS pudessem rodar sem problemas nele.
Lamentavelmente, desde que o desenvolvimento do BeOS encerrou em
2000, aqueles aplicativos de terceiros que rodam agora no Haiku foram
desenvolvidos para uma época que remonta há dez anos atrás.
O
sistema operacional está atualmente em estágio Alfa, com um porte
do WebKit e um protótipo
de pilha WiFi em desenvolvimento. Diferentemente do Linux, onde a
base de desenvolvedores está sempre crescendo, o progresso do
Projeto Haiku levou tempo para alcançar seu marco, com rumores de um release candidate a ser lançado no fim do ano.
Sendo
uma alternativa de código aberto do BeOS, o Haiku segue os mesmos
passos como o sistema operacional da Be Inc. foi desenvolvido. Ele
mantém-se afastado de outros projetos como AtheOS, Syllable, QNX
RTOS ou MenuetOS por causa de sua longa história. Lamentavelmente,
dado a falta de desenvolvedores e com o interesse no BeOS arrefecendo
ao longo dos anos, o projeto Haiku tem tido um progresso lento. O que
não significa que o progresso não foi constante.
Razvan
T. Coloja é um freelancer romeno de 31 anos. Ele publicou artigos de
TI na Linux.com, Linuxforums.org, na Linux Magazine, Ubuntu User
Magazine, MyLINUX, MyComputer e Connect Magazine. Atualmente ele
trabalha como especialista em SEO para uma empresa de webdesign.
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